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A insustentável leveza da exigência

A insustentável leveza da exigência aos políticos que estão no poder leva Portugal em geral e Cascais em particular, para políticos medíocres e pouco descortinados.

Há dias foi-me pedido que falasse sobre as últimas “promessas” eleitorais do actual e então presidente da Câmara Municipal de Cascais (CMC). Mais especificamente, sobre os cartazes que espalharam pelo concelho em altura de campanha eleitoral.

Antes de mais, tenho que dizer que os cartazes que a CMC colocou, para além da flagrante violação da lei, em que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) obrigou a que os mesmos fossem retirados durante o período eleitoral, são a habitual propaganda da CMC, com o acréscimo que é paga por todos nós, munícipes de Cascais.

Além disso, muitos destes projectos, que têm agora uma nova data futura de conclusão, já faziam parte das Grandes Opções do Plano há muitos anos, com prazos de conclusão que já passaram há muito. Para dar um exemplo, o Centro de Saúde de Carcavelos estava previsto para…2020. Muito antes da última campanha eleitoral e já no programa eleitoral do PSD/CDS de…2017.

A CMC o que fez agora foi colocar novas datas, mas a situação é sempre a mesma. Não se cumprirem os prazos e objetivos iniciais. Assim, continuam com as habituais sessões de apresentação deste e daquele projecto, que se arrastam durante anos até à sua eventual conclusão…com óbvia pompa e circunstância publicitária.

Para concluir, as questões não se podem cingir ao facto se estes projetos devem ser concluídos.

É mais que óbvio que devem. Aliás, há projectos que já deviam estar terminados há décadas. Por exemplo, a criação dum parque verde nas Batarias da Parede que, por curiosidade, já foi falado em 2014 e estava no programa de 2017 da mesma coligação.

A questão, com um Orçamento de 300 milhões de euros, como é que a CMC liderada por Carlos Carreiras e ladeada pelos seus boys, não consegue fazer mais e melhor?

Na minha opinião, faltam muitos projetos (que não são necessariamente só instalações e/ou edifícios novos), tanto na área da mobilidade e do ambiente, só para dar dois exemplos.

As estradas municipais estão num estado lastimoso e só acrescentam lombas e lombinhas sem haver um programa de manutenção temporária e contínua. Sem referir aquelas que estavam previstas no PDM e foram ignoradas para a construção de algo que seja mais “digno de propaganda política” ou mesmo propostas aprovadas para uma melhor mobilidade pedonal, como é o caso da proposta da IL “Por uma Mobilidade Pedonal mais Inclusiva – Freguesia de Carcavelos e Parede” a 10/03/2022.

No ambiente, abatem dezenas, senão centenas, de árvores para fazer parques de estacionamento… uns nem chegam a ser utilizados, como aquele perto da Quinta de São Gonçalo agora cedido à Nova. Já nem falo da Quinta dos Ingleses, local que todos os esforços deviam ser para defender esse manto verde único dada a sua localização.

Terminando, falta também explicar a lógica de muitos outros projectos, que a CMC não faz propaganda, e que custam milhões de euros aos munícipes, como a nova estação para o fornecimento de hidrogénio, ou as obras de remodelação no Aeródromo de Cascais e aqueles em que fez tamanha propaganda ecológica, mas não justifica o flop de gestão e de desperdício de milhões de euros como o veículo autónomo, as bicicletas eléctricas ou mesmo os sopradores e aspiradores eléctricos e silenciosos.

Infelizmente, muito poucos lêem os programas, e ainda menos vota com base no cumprimento, ou não, do programa.

Não houvesse esta insustentável leveza da exigência aos políticos eleitos e a nossa qualidade de vida estaria melhor e provavelmente teríamos políticos menos propagandistas e mais pragmáticos, logo melhores para os cidadãos e não tão bons para o clientelismo e mais cuidadosos para com o nepotismo instalado.

* o autor escreve sem o novo acordo ortográfico