Apaixonado pelas quatro rodas me confesso, teria que, mais cedo ou mais tarde, tocar num assunto que me é muito querido.
Portugal tem vindo a cimentar a sua reputação mundial
enquanto um país de desportistas há já algum tempo, o futebol é sem dúvida o
grande destaque nacional, devido à sua popularidade, porém, já mostrámos
cartas, no ténis, no ciclismo, na canoagem, na ginástica acrobática, no ballet
(sim, leram bem no ballet e no masculino!), no atletismo, no surf, no bodyboard
e por fim nos desportos motorizados. Podemos dizer, finalmente, que Portugal é
sem sombra de dúvida muito mais do que futebol! Portugal podia ser um hub
de campeões, mas infelizmente não passa de uma “fábrica”, onde os monta e
depois, de modo a alcançarem destaque internacional, tende a deixar os seus
atletas irem para outras paragens treinar e competir pois não apresenta
capacidades para os fixar por cá ou não tem “tamanho” suficiente para os
projetar.
Basta olharmos para o nosso vizinho espanhol e vemos que a
mentalidade do povo daquele país, no que toca ao desporto onde, ainda assim, o
futebol é também o desporto-rei há toda uma fervorosidade pela presença de um/a
atleta espanhol/a em qualquer que seja a modalidade desportiva. Espanha tem uma
presença eclética no desporto mundial e que inveja me dá, confesso, de não
termos em Portugal a mesma coragem de olharmos para além do futebol, de não
termos a coragem de apoiar (mais) as outras modalidades existentes, aqui a minha
crítica não fica apenas pelo sector público, que deveria de ser o primeiro a
apoiar, mas também o estendo ao sector privado que deveria de ser mais corajoso
nos apoios que dá cá dentro ao invés de olhar logo para fora, de modo a ganhar
mais visibilidade e notoriedade. Percebo o porquê, é uma questão de imagem, é
uma estratégia de marketing que se equaciona com um P&L por vezes
arriscado, mas bolas e se se aposta num projeto nacional vencedor que acaba por
ter reconhecimento internacional, ainda por cima agora em que vivemos na era
das redes sociais e da informação na palma da mão? Sempre ouvi dizer que “o que
é nacional é bom”, como um povo já estamos fartos de dar exemplos disso, porque
é que não apostamos mais em nós? Arrisque-se!
Foi coisa que Cascais e, neste caso específico, a Câmara
Municipal perdeu essa coragem necessária. Respondendo à questão que coloquei no
título: Cascais pode ser pois tem tudo para rivalizar com o Caramulo enquanto
“Meca” do automobilismo nacional, mas não teve nem tem coragem.
Vejamos o que temos em Cascais:
-Temos estradas que nos levam a fazer passeiros lindíssimos
e onde já passaram lendas do rally internacional como Alén Markku e Hannu
Mikkola (que tinha como seu copiloto Jean Todt!);
-Temos um autódromo (que esteve anos ao abandono,
negligenciado) que é uma das pistas mais míticas da Fórmula 1 onde pilotos como
Niki Lauda se sagrou pela última vez campeão do mundo, onde o (meu) eterno
(ídolo), Ayrton Senna da Silva, venceu pela primeira vez na sua carreira e onde
Michael Schumacher obteve um dos seus primeiros pódios, não esquecendo o
motociclismo onde uma das corridas mais renhidas de sempre teve lugar entre a
lenda-viva Valentino Rossi, tendo incrivelmente perdido a mesma, e Toni Elias
ou onde Miguel Oliveira deu os seus primeiros passos rumo ao estrelato mundial;
-Temos os belos concursos de elegância do ACP nos jardins do
casino;
E, por fim, tivemos a oportunidade de ter a “cereja no topo
do bolo”, um museu absolutamente único e icónico, de seu nome: Motor Passion
Museum.
Duarte Cancella de Abreu, um homem que descobri quando era
miúdo ao ler o seu livro “Nos Bastidores da Fórmula 1” – um excelente livro,
fica feita a recomendação – que deu tanto ao país através do seu trabalho e
influência no desporto motorizado viu o sonho de poder retribuir à comunidade
motorizada, num local quase perfeito, a desaparecer por inércia da Câmara
Municipal que foi incapaz de perceber a potencialidade daquele museu, inserido,
outrora, à entrada da marina, perto do Bairro dos Museus de Cascais. Tendo
existido apenas por cinco anos.
Como é que irá Cascais aproveitar, na sua totalidade, a sua
potencialidade enquanto local predileto para os amantes do automobilismo? Como
é que Cascais não tem um espaço museológico que rivaliza com o Museu do
Caramulo, quando tem todas as capacidades para isso? Se o projeto do Motor
Passion Museum encerrou definitivamente em 2019, como é que ainda não se
apresentou um projeto alternativo para agarrar a potencialidade quer desta
comunidade quer da presença de um museu deste tipo em solo cascalense?
Cascais acabou por perder uma oportunidade única de se
afirmar como a “Meca” dos amantes do automobilismo em Portugal, devido à sua
falta de visão e coragem ao não ter continuado a apoiar o projeto de Duarte
Cancella de Abreu, perdeu um local de grande atratividade turística nacional e
internacional.
Onde a falta de vontade escasseia, os sonhos morrem e as
oportunidades perdem-se!
Oxalá que, de futuro, Cascais venha a aperceber-se de toda a
sua potencialidade neste meio e que faça corar o Caramulo de ciúmes!