A DNA Cascais é um exemplo de entidades criadas para que o executivo do PSD Cascais possa parecer que está ativo na área do empreendedorismo. Um PSD Cascais que acredita que o desenvolvimento económico, o empreendedorismo ou o investimento de risco é de maior sucesso quando for gerido pelos habituais caciques partidários à custa do dinheiro dos nossos impostos.
Em Cascais não nos faltam exemplos desta abordagem socialista. Temos a DNA Cascais (para contribuir a apoiar o desenvolvimento económico em Cascais e participar na promoção, modernização, inovação e incentivo do comércio e do empreendedorismo), mas temos também a Cascais Dinâmica (promover o empreendedorismo local e regional, de forma a contribuir para o desenvolvimento económico sustentável do Concelho), a Cascais Invest (desenvolvimento empresarial do concelho de Cascais) e a própria Câmara Municipal de Cascais.
Nada exemplifica o fracasso desta abordagem tão bem quanto a DNA Cascais, fracasso esse personificado pelo seu presidente Nuno Piteira Lopes, também vereador pelo PSD e responsável da campanha eleitoral do PSD em Cascais nas próximas autárquicas.
A DNA Cascais é um fracasso financeiro, porque a sua existência só é possível pelos milhões de euros em subsídios à exploração da Câmara Municipal de Cascais, e que são pagos pelos munícipes através dos seus impostos. Em 2020 a DNA Cascais obteve receitas de 1,3 milhões de euros, mas dos quais 1,0 milhão de euros (+27% que no ano anterior) foram subsídios da CMC. Uma entidade para fomentar o empreendedorismo só (sobre)vive à custa de subsídios, não criando valor nem estimulando o empreendedorismo. Na parte “comercial” da sua atividade, como “gestora” dos espaços comerciais e de uma cafetaria da Câmara Municipal de Cascais , não se conhece uma única métrica para aferir o seu sucesso, aliás a própria política comercial é decidida pela Câmara Municipal de Cascais para simplesmente ser executada pela DNA Cascais.
A DNA Cascais é um fracasso operacional, como facilmente se constata por uma comparação entre a realidade e os Estatutos da DNA Cascais onde, no seu Artigo 4º, são listadas as suas atividades e objetivos. Objetivos que nunca saíram, nem vão sair, do papel e da imaginação delirante de quem os escreveu, tais como a criação de “clínicas de gestão” (o que quer que isso seja), a criação de um “Banco de Ideias”, a criação do “Banco de Tempo Voluntário para apoio ao empreendedorismo”, a “criação e gestão de sociedades ou fundos de capital de risco vocacionados para o comércio empreendedorismo” entre outras ambições mirabolantes.
A DNA Cascais é também mais uma demonstração da profunda opacidade de como continuam a ser geridos, pela Câmara Municipal de Cascais, os dinheiros públicos. Não há um único contrato celebrado pela DNA Cascais disponível no portal BASE. Não há informação sobre os critérios de utilização do espaço de ninho de empresas em Alcabideche. Não há informação sobre o tipo de apoios ou os critérios com que os mesmos são atribuídos às empresas supostamente apoiadas pela DNA Cascais. Não há informação sobre a garantia da confidencialidade das ideias e projetos que são submetidos à DNA Cascais. Não há garantias que a DNA Cascais, como entidade da Câmara Municipal de Cascais, tenha um tratamento isento e imparcial entre as empresas “apoiadas” e todo o restante tecido económico em Cascais. Simplesmente não há transparência.
Uma análise dos Relatório de Contas de 2018 a 2020 levanta inúmeras questões que a IL Cascais gostaria um dia de ver esclarecidas publicamente. Qual o motivo dos 91.000 euros em deslocações e estadias em 2018? Que despesas estão incluídas nos mais de 111.000 euros gastos em “Outros Serviços” em 2020? Quem é paga a manutenção e investimento nos espaços arrendados pela DNA Cascais (tais como no mercado de Cascais) e que constituem, a seguir aos subsídios da CMC, a sua principal fonte de receitas? E muito mais haveria por esclarecer.
Para que serve então a DNA Cascais? Serve para fazer propaganda ao executivo autárquico do PSD, nomeadamente ao seu vereador Nuno Piteira Lopes e às suas aspirações a Presidente da Câmara Municipal de Cascais, propaganda disfarçada por um conjunto de chavões como “ecossistema empreendedor”, umas estatísticas de utilidade nula debitadas quando convém (“número total de reuniões”) e frequentes anúncios de ações de formação e “concursos”.
A DNA Cascais é um fracasso que um verdadeiro empreendedor já teria fechado. Mas o PSD e o “empreendedor” Nuno Piteira Lopes (tal como o “empreendedor” Pedro Nuno Santos, que tanto tem sido elogiado recentemente por este executivo autárquico) gostam de “empreender” com o dinheiro dos nossos impostos. A DNA Cascais é uma TAP à escala de Cascais em que o “empreendedor” é bom a correr riscos com o dinheiro dos outros.
Com o dinheiro dos outros, é muito fácil ser “empreendedor”. Para ser um verdadeiro “empreendedor”, Nuno Piteira Lopes devia primeiro correr riscos com o seu próprio dinheiro.