A Quinta dos Ingleses é um tema extremamente complexo, pelas implicações legais, ambientais, financeiras e económicas que tem, algumas vezes contraditórias, mas é preciso dialogar, ouvir e compreender todas as partes, para encontrar um compromisso que salvaguarde, dentro do possível, os direitos e as aspirações de todos. E é preciso fazê-lo dentro do quadro estritamente legal que existe, sem entrarmos em demagogias.
Quem viu e ouviu, na audição do passado dia 5 de maio na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território da Assembleia da República, as intervenções de Carlos Carreiras (pelo PSD) e Miguel Costa Matos (pelo PS) a trocar acusações, ou Carlos Carreiras (PSD) a dar instruções ao CDS (!) para se abster numa eventualmente votação, rapidamente conclui que estes políticos estão mais preocupados em culpar outros pelos erros dos seus partidos (e seus) feitos no passado – há 45 anos que o PSD, CDS e PS gerem a Câmara Municipal de Cascais – do que encontrar uma solução para este problema.
Carlos Carreiras disse agora que, veja-se a demagogia e a falácia, se dependesse dele, não avançava com o Plano de Pormenor da Quinta dos Ingleses, mas a verdade é que o projecto actual reflete os dois anos que esteve em conversações com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR_LVT), a “inevitabilidade do projecto actual” (parafraseando o mesmo) já foi por si defendida várias vezes e, por isso, não surpreende que queira que o PSD (e o CDS) se abstenham na votação da proposta em discussão na referida comissão. Se é contra porque não disse para votarem contra em 2014, quando o fez aprovar com o voto de Zilda Silva (coligação PSD/CDS), Presidente da Junta da União de Freguesia de Carcavelos e Parede? Ou porque é que não o “suspende ou revoga”, como a representante da CCDR-LVT disse que a CMC podia fazer?
Sejamos claros, Carlos Carreiras, contrariamente ao que afirma agora de uma forma populista, quer construir o projecto da Quinta dos Ingleses tal como está, e com isso contabilizar as receitas do IMT, IMI, taxas de urbanismo, e contrapartidas do promotor, para poder colocar mais umas placas de inauguração.
Como cidadão, olhando para este logro político, pergunto-me porque não procura o presidente da Câmara Municipal de Cascais dialogar com todos os intervenientes e conciliar os legítimos (ainda que nalguns casos contraditórios) direitos e aspirações de todos?
Por que motivo se considera a colocação de equipamento público (incluindo um centro paroquial, e um parque de “skate” entre outros) dentro da futura urbanização quando poderiam ser facilmente deslocalizados para outras zonas da freguesia, permitindo desta forma aumentar a área verde a ser preservada?
Por que motivo não se considera uma eventual alteração da localização de elementos do projecto, por forma a retirar pressão urbanística junto das áreas mais sensíveis, nomeadamente junto da orla costeira?
Por que não analisamos o custo de reduzir uma parte da área total a ser construída, nomeadamente aquela que está em áreas mais sensíveis? Ou por que não se permutam terrenos com outros com capacidade edificativa que compensem os proprietários pela perda de parte daquela área? O custo de uma redução será certamente muito inferior aos 264 milhões de euros pedidos e que Carlos Carreiras alega serem necessários para parar todo o projecto.
Por que não alocamos as receitas de IMT, IMI e taxas de urbanismo geradas por este projecto, para durante um período de tempo (5 anos? 10 anos?) financiar o custo de uma alternativa ao projecto actual, em vez de serem usadas pela C.M.C. em pipocas, esferográficas, placas de inauguração e cartazes publicitários?
Outras alternativas haverão. Mas o importante é trabalhar numa solução para podermos aumentar a área do “parque natural urbano” para além dos 10 hectares actualmente previstos, majorando as áreas verdes sobretudo nas zonas mais relevantes da Quinta dos Ingleses (a zona nascente e a faixa junto à costa).
Não podemos desistir de encontrar uma solução que permita que a Câmara Municipal de Cascais cumpra as suas obrigações para com os proprietários, mas que ao mesmo tempo permita gerar emprego e permita defender a orla costeira.
Mas sobretudo não podemos de desistir de encontrar uma solução que permita que a população de Carcavelos e Parede garanta o futuro do espaço único da freguesia que é a Quinta dos Ingleses.
Talvez um dia voltem as raposas à Quinta dos Ingleses. Serão certamente raposas mais felizes e liberais.
Pensa diferente, muda o rumo da Quinta dos Ingleses.
Nota: Tiago Albuquerque escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico