Imaginemos uma criança que nunca viu um número na vida e fez o seu percurso até ao 7º ano sem nunca ter assistido a uma aula de matemática. Imaginemos agora que essa criança ao chegar ao 7º ano entre pela primeira vez numa aula de matemática…
Não é preciso ser muito perspicaz para supor que em primeiro lugar esta criança não ia compreender o que fosse falado nessa sua primeira aula de matemática. Com a falta de conhecimento viria o desinteresse e muito provavelmente mais cedo ou mais tarde, se a aula não fosse obrigatória, viria o absentismo. Tudo isto é claro e compreensível para qualquer cidadão.
Agora imaginemos um jovem que chega ao final do 12º ano, faz 18 anos, e nunca ouviu falar de política. Não sabe a diferença entre a esquerda e a direita, entre o liberalismo e autoritarismo, não sabe a diferença de funções e responsabilidades do Presidente da República, do Parlamento, do Primeiro-Ministro e dos Presidentes de Câmara Municipal e de Junta de Freguesia… não sabe os direitos e deveres que a constituição lhe dá… não sabe os benefícios e condicionalismos de pertencer à União Europeia. Tendo chegado aos 18 anos, é pedido a este jovem para se pronunciar sobre o futuro do país, votando! Invariavelmente este jovem vai desinteressar-se e abster-se…
O problema da abstenção em Portugal não se resume à taxa de abstenção que nas últimas eleições legislativas foi de 42% em território nacional- o direito a abster-se é um direito constitucional e que não deve ser levianamente discutido. O problema da abstenção em Portugal é as razões que levam um cidadão a abster-se – quando alguém com 18 anos decide não ir votar porque não percebe de política, fomos todos nós, como cidadãos, que falhámos ao não ensinar nas nossas escolas e nas nossas casas as bases políticas para que os nossos filhos se possam tornar nos cidadãos responsáveis do amanhã.